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­Solus Evangelium

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[Hoje] ... o problema principal não é a dureza ao evangelho,

mas a ignorância do seu conteúdo.”

(WASHER, 2012, Pg. 14 – grifos do autor).

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      Após exatos 500 anos da Reforma Protestante, não é preciso ser muito espiritual e nem possuir uma grande dose de perspicácia  para se chegar a óbvia   conclusão   de   que o cristianismo contemporâneo, especialmente o vivido e pregado pela igreja brasileira, precisa urgentemente de uma nova reforma tal qual a que ocorreu no século XVI com Martinho Lutero.

     Assim, inspirado nos famosos “Cinco Solas da Reforma”, sintetizei-os a todos nesta simples (porém profunda) expressão latina: “Solus Evangelium”. Todos sabemos que os “Cinco Solas” são: Sola Gratia (só/somente a graça); Sola Fide (só/somente a fé); Sola Scriptura (só/somente a Escritura); Solus Christus (só/somente Cristo) e Soli Deo Gloria (gloria só/somente a Deus).

      No entanto, a despeito disto, a verdade é que “[hoje] ... o problema principal não é a dureza ao evangelho, mas a ignorância do seu conteúdo” (WASHER, 2012, Pg. 14). Logo, por mais difícil que seja de se confessar e reconhecer tal fato, é exatamente por essa razão que chegamos ao ponto de nos tornarmos “uma igreja que já não se lembra de suas raízes”, nas palavras do doutor em Ciências da Religião, Paulo Romeiro (NICODEMUS, 2015, Pg. 07).

      Nossa falência tão contundente alcançou patamares tão elevados, que talvez o Rev. Augustus Nicodemus esteja certo ao opinar: “É minha convicção que o evangelicalismo brasileiro está chegando a uma etapa que prenuncia seu fim (NICODEMUS, 2015, Pg. 11 – grifos do autor). De fato, “o momento presente é tão crítico que parece já não fazer nenhuma diferença a presença da igreja no seio de uma sociedade totalmente corrompida (SOUZA, 2017, Pg. 134 – grifos do autor), onde “os valores sociais, éticos e morais têm sido levados por alguns ao altar do sacrifício das preferências do egoísmo pessoal [..]” (SOUZA, 2017, Pg. 134).

    Quando leio obras como O Evangelho de Hoje: Autêntico ou Sintético? (Walter J. Chantry); Cristianismo sem Cristo: O evangelho alternativo da igreja atual (Michael Horton); A Igreja Desviada: Um chamado urgente para uma nova reforma (Charles Swindoll); Com Vergonha do Evangelho: Quando a Igreja se torna como o mundo (John MacArthur); Recuperando o Cristianismo: o resgate da verdadeira fé (A. W. Tozer); 10 Acusações contra a Igreja Moderna (Paul Washer); Verdadeiro Evangelho: Redescobrindo a mensagem mais importante da escritura (Paul Washer); O Antigo Evangelho: Um Desafio para Redescobrir o Evangelho Bíblico (J. I. Packer); O Ateísmo Cristão e outras ameaças à igreja (Augustus Nicodemus); O que estão fazendo com a Igreja: Ascenção e queda do movimento evangélico brasileiro (Augustus Nicodemus); Outro Evangelho (A. W. Pink); Evangélicos em Crise: decadência doutrinaria na igreja brasileira (Paulo Romeiro); O Evangelho no Centro: renovando nossa fé e reformando nossa prática ministerial (D. A. Carson e Timothy Keller); Morte na Cidade: A mensagem à cultura e à igreja que deram as costas a Deus (Francis A. Schaeffer); Removendo Máscaras: Viver na verdade é viver na luz, é viver sem máscaras! (Hernandes Dias Lopes); De Pastor a Pastor: Princípios para ser um pastor segundo o coração de Deus (Hernandes Dias Lopes); Para onde Caminha a Igreja (Hernandes Dias Lopes); Revitalizando a Igreja: Na busca por uma igreja viva, santa e operosa (Hernandes Dias Lopes e Arival Dias Cassimiro); O Evangelho de Hoje: Autêntico ou sintético? (Walter J. Chantry); Convulsão protestante: Quando a teologia foge do templo e abraça a rua (Antônio Carlos Costa); Igreja. Acabou? (Israel Belo de Azevedo); Firmes: Um chamado à perseverança dos santos (John Piper e Justin Taylor); Ser cristão numa cultura sedutora (Alcides Martins Junior); Vivendo com Integridade: Liderança Espiritual em Tempos de Crise (Steve Doughty); Aprovados em Cristo: Uma Análise bíblica, profunda e coerente da aprovação em Cristo a partir de Rm 16: 10a (Samuel Caitano), entre outras mais (que também apresentam em um claro contraste entre o cristianismo contemporâneo e o da Era Apostólica), penso que só há duas conclusões obvias: Ou tais autores são muito pessimistas e negativistas em seus escritos, ou de fato eles retratam uma realidade triste, lamentável e lastimável e que claramente estamos experimentando com maior intensidade e extensão hoje e precisamos urgentemente mudar. Talvez (e é mais prudente pensar assim), esta última esteja mais coerente com o que estamos vendo e vivendo!

      Por isso, o princípio do “Solus Evangelium”, que (penso eu) sintetiza com maestria a todos os demais “Solas da Reforma”, precisa ser novamente evocado pela Igreja contemporânea. “Solus Evangelium” significa que devemos pregar somente o Evangelho, que devemos viver apenas o (não do) Evangelho de Cristo, que devemos retornar ao Evangelho da Sagrada Escritura, até porque, quando se fala em Reforma, não pretende-se inovar nada (no sentido moderno da palavra), antes, em síntese, trata-se de um retorno às Escrituras.

      Em o Verdadeiro Evangelho: Redescobrindo a mensagem mais importante da Escritura, Paul Washer é-nos contundente em sua afirmativa: “Eu diria a você que a nossa maior necessidade é redescobrir o evangelho de Jesus Cristo e proclamá-lo” (WASHER, 2012, Pg. 17 – grifos do autor). Isto porque, ele completa, “[...] vivemos em dias nos quais o evangelho não está muito claro em nossas mentes” (WASHER, 2012, Pg. 15 – grifos do autor).

      Verdade seja dita, a pregação que dá ibope e que mais se destaca atualmente é aquela que caminha pelo terreno escorregadio do emocionalismo. Que é pautada em livros de auto-ajuda e não na Palavra de Deus. Que infla o ego do ouvinte por se falar o que o mesmo quer ouvir e não o que de fato precisa ouvir. Convenhamos que testemunhamos hoje o florescimento do humanismo exacerbado e idolátrico, onde o místico sobrepujou a verdade e a espiritualidade tem perdido sua essência, passando a ser apenas cênica e teatral, resultando assim em um “culto-show” onde se é priorizado o bem estar e a vontade desta geração humanista, mesmo que em detrimento da verdade bíblica.

      Isso explica porque uma Igreja que seja genuinamente bíblica, sadia e neotestamentária está escassa em nosso país!

     Em contrapartida, uma igreja que substitui o púlpito pelo palco, que transforma denominações inteiras em empresas pessoais e os seus respectivos templos em filiais comercias com uma roupagem religiosa, que converte o verdadeiro evangelho em apenas um produto barato, que muda a genuína pregação bíblica em uma trivialidade de autoajuda, pragmatismo e conversas tolas, rasas e cheias de saber psicológico, que visualiza não as almas do povo, mas os bolsos dos mesmos, de modo a vê-los apenas como uma clientela consumista, que se desvia da sã doutrina tornando-se mística e sincretista, que relativiza a verdade em nome do crescimento numérico de modo a fazer do culto bíblico e tradicional, unicamente um “show gospel”, para não dizer um “circo gospel”, onde é saturado de algazarra, bizarrices, movimentos, barulhos, danças e coreografias, mas que não leva a edificação alguma.

      Este tipo de cristianismo tem encontrado no Brasil um solo fértil de modo que seu crescimento assemelha-se às ervas-daninhas...

   Por tudo isso (e muito mais), carecemos, com um certo senso de urgência, voltarmos ao princípio do “Solus Evangelium”. Precisamos urgentemente combater àqueles que “[...] querem transtornar o evangelho de Cristo” (Gl 1: 6-7) anunciando ousadamente ao mundo “o Evangelho todo para o homem todo” (MATOS, 2008, Pg. 46). E esse combate dar-se somente, única e exclusivamente, mediante o Evangelho da Bíblia Sagrada, e nada mais!

     Solus Evangelium é a solução à Igreja Brasileira! Estribado nesta verdade basal, concluo lhes conclamando e lhes desafiando e pregarem (e principalmente viverem) o Evangelho "a tempo a fora de tempo" (2Tm 4: 1-2).

      Assim, e somente assim, poderemos experimentar uma nova Reforma e um novo avivamento da parte de Deus de fato e de verdade.

      Soli Deo Gloria!!!

 

Samuel Caitano

Brasília-DF, Novembro de 2017.

 

 

 

Bibliografia

 

 

MATOS, Alderi Sousa de; e MAIA, Hermisten. Cristo e a Cruz. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.

 

NICODEMUS, Augustus. O que estão fazendo com a Igreja: Ascenção e queda do movimento evangélico brasileiro. São Paulo:  Mundo Cristão, 2008. 15° reimpressão: 2015.

 

SOUZA, Nonato. Ministério jovem – Líder eficaz: jovens lideres cumprindo seu papel de agentes do Reino de Deus. Brasília: Os Semeadores, 2017.

 

WASHER, Paul. Verdadeiro Evangelho: Redescobrindo a mensagem mais importante da escritura. Traduzido por Alan Cristie. São José dos Campos, SP: Fiel. 2012.

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